23 de novembro de 2014

O esquema chegou nas elétricas

Ao encontrar uma planilha de custos da obra da hidrelétrica de Jirau na casa do doleiro Alberto Youssef, a PF identifica tentáculos do esquema do petrolão no setor elétrico. Ao cumprir mandado de busca e apreensão na casa do doleiro Alberto Youssef, a Polícia Federal encontrou uma planilha com 750 projetos. Do total, apenas 19 correspondem a contratos com a Petrobras. O restante refere-se à atuação do doleiro no setor elétrico, em infraestrutura e até na área de Defesa. Sempre em parceria com o clube VIP das empreiteiras, desbaratado há duas semanas com a prisão de seus principais dirigentes, Youssef não respeitou fronteiras, avançando em obras no Uruguai, na Argentina, no Equador e até em Cuba.

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Empreendimento em xeque
A obra suspeita, no rio Madeira, recebeu aporte de
R$ 7,2 bilhões do BNDES. Abaixo, documento da PF
faz referência à planilha encontrada na casa do doleiro
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Na planilha, guardada a sete chaves pela PF, cada projeto está vinculado a um “cliente”, normalmente uma grande construtora, com contratos com a União e também com governos estaduais, como Rio de Janeiro, Distrito Federal e Alagoas. Para cada cliente, Youssef relacionou um nome de contato e um número de telefone. Apesar dos indícios de problemas em diversas áreas, integrantes da força-tarefa da Lava Jato seguem o rastro de eventuais desvios no setor elétrico. Uma pista importante é o fato de Youssef ter em mãos uma planilha de custos da Camargo Corrêa na obra da hidrelétrica de Jirau, que está sendo erguida no rio Madeira, em Rondônia. A obra recebeu aporte de R$ 7,2 bilhões do BNDES. O documento foi apreendido na mesa de João Procópio de Almeida Prado, apontado como braço-direito do doleiro e elo com a empreiteira. Ele é concunhado de João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da Camargo, que está detido.
À Justiça, o doleiro confirmou que Auler serviu de contato com Eduardo Leite, o vice-presidente da empreiteira que foi beneficiário das propinas. “Leitoso”, como era conhecido pelo grupo, também foi detido preventivamente. O leilão de concessão para construção da usina foi realizado em 2008. Quem venceu foi o consórcio Energia Sustentável do Brasil, no qual a Camargo Corrêa tinha 9,9%. Pouco tempo depois, a construtora vendeu metade de sua participação para a Funcef, o fundo de previdência dos servidores da Caixa Econômica Federal. Em 2012, a empreiteira deixou o negócio.
O acordo com a Funcef estabelecia o reembolso pelo investimento e mais o pagamento de ágio. A negociação previa a incorporação posterior da Cevix, empresa criada pela Funcef em parceria com a Desenvix, uma subsidiária da Engevix. A PF espera aprofundar o assunto nos depoimentos dos executivos da empreiteira que foram presos na “Juízo Final”, entre eles o vice-presidente da Engevix, Gerson Almada. Além de Jirau, pairam suspeitas sobre a hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira. A obra é liderada pela Odebrecht, que é alvo da PF. A Engevix construiu a hidrelétrica de Monjolinho (RS) e ainda participou de outras obras em Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e até no Peru.
Ainda no setor elétrico, a PF já identificou também o uso de projetos de pequenas usinas – eólicas, hidrelétricas e termoelétricas – como meio para “ocultar e dissimular” a origem de recursos ilícitos. Os investigadores citam, por exemplo, a Central Termelétrica Sul S/A (CTSUL). O empreendimento foi alvo até de um termo de investimento na primeira visita que o então presidente Lula fez à China em 2004. Os mais de US$ 700 milhões prometidos pelos chineses, porém, nunca chegaram. Mesmo assim, o negócio interessou à CSA Finance, de Youssef. O doleiro também conseguiu criar por meio de laranjas um projeto de 40 usinas eólicas e vendeu os papéis para a Queiroz Galvão por R$ 200 milhões. Até hoje, apenas cinco projetos foram executados pela empreiteira. A PF suspeita que o negócio foi usado para acobertar o pagamento de propina, assim como fizeram com a emissão de notas fiscais e a assinatura de contratos forjados com a Petrobras.
Outro projeto que entrou na mira dos investigadores foi a usina termelétrica de Pecem, no Ceará. Faz parte do consórcio a empresa Mairi Engenharia (ex-Fiat Engenharia, citada na planilha de Youssef) e a Efacec do Brasil, representada por José Piva Campana, que é citado no relatório da “Juízo Final” como representante da Toshiba Infraestrutura num contrato de R$ 2 milhões com a empreiteira fantasma Rigidez, de Youssef. Para a PF, há fortes indícios de que o contrato seja mero instrumento legal para acobertar o pagamento de propina. A presença de Piva na UTE do governo Cid Gomes seria indício de que esquema semelhante foi aplicado lá. Os investigadores estimam que 70% dos projetos elétricos licenciados pelo governo e comercializados no mercado sejam apenas papéis podres usados para lavagem de dinheiro. A expansão do setor na última década levou todas as grandes empreiteiras do País, o chamado “clube vip”, a criarem subsidiárias na área de energia.
Foto: Divulgação
Fonte: Isto é

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