Não era apenas contra Dilma: ao defender o combate à corrupção, os protestos colocam Brasília sob pressão inédita
As manifestações deste domingo pelo Brasil deixam claro que os brasileiros têm um apreço incomensurável pela Operação Lava Jato e não aceitam que políticos façam qualquer coisa para atrapalhar o trabalho de investigação e punição dos acusados. Tal obviedade ganha grande força quando se vê milhares de pessoas nas ruas de mais de uma centena de cidades a defender o combate à corrupção. A dimensão dos protestos não chegou perto daqueles pelo impeachment de Dilma Rousseff, mas foi um recado inicial incisivo. Não era apenas contra Dilma: os brasileiros agora querem combate à corrupção e estão dispostos a defender esta ideia e pressionar quem se opuser a ela.
Os manifestantes deixaram muito claro o desapreço pelo fato os deputados terem, na semana passada, desfigurado - sem pena e sem vergonha - o pacote de medidas de combate à corrupção, numa madrugada em que o país se condoía da tragédia com o time da Chapecoense. Mostraram também que elegeram um novo alvo pessoal. O grito “Fora, Renan”, em referência ao presidente do Senado, Renan Calheiros, tomou o lugar dos antigos “Fora, Dilma” e “Fora, Eduardo Cunha” - o “Fora, Temer” não compareceu desta vez. A ânsia em tentar acelerar o trâmite do pacote anti-corrupção no Senado e o fato de ter se tornado réu no Supremo Tribunal Federal transformaram Renan no novo personagem central dos protestos. Não é nada bom para quem ainda tem 11 inquéritos a correr no Supremo – oito deles oriundos da Lava Jato. Surgiu também o grito “Fora, Maia”, contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM. Novato como alvo de protestos, Maia foi incluído por sua participação na conversão do projeto de medidas contra corrupção em ações para dificultar investigações e punições de corruptos.
As manifestações aumentam o tamanho que Brasília enfrenta a partir desta segunda, dia 5. O Senado terá de tomar a difícil decisão de manter ou desacelerar a tramitação do pacote de medidas desfigurado pela Câmara. Sem Dilma e Eduardo Cunha no palco desta crise, Renan Calheiros estará no ponto central de observação. O Palácio do Planalto terá de trabalhar para contornar as pressões sobre o presidente Michel Temer. Na semana passada ela veio de parlamentares desesperados para ficarem mais “protegidos” contra investigações; neste domingo uma pressão exatamente oposta veio da população. Temer terá de evitar que uma decisão assim chegue à sua mesa.
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