Os números do analfabetismo no País mostram que 16,7% dos 13,4 milhões de analfabetos brasileiros têm entre 20 e 40 anos. Eles representam 2,2 milhões de pessoas que, junto com outro meio milhão de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos, não estão alfabetizadas.
Essa é a grande preocupação dos especialistas, apesar de a maioria dos analfabetos brasileiros ser idosa. Do total de analfabetos brasileiros, 45% (mais de 6 milhões) têm mais de 60 anos.
Ao longo dos últimos anos, quando o tema se tornou compromisso dos governantes (em acordos internacionais e campanhas), os esforços de universalização do ensino não chegaram aos adultos como deveriam e ainda “produzem” analfabetos. Muitos escolarizados, inclusive.
Eles mostram que 7,2 milhões de brasileiros que deveriam saber ler e escrever (possuem mais de 10 anos de idade) vivem nos estados da região Nordeste.
Ana Lúcia não acredita que uma solução única seja possível para resolver o nó que se tornou a alfabetização de adultos no Brasil. Ela lembra que a geração mais velha, que não teve acesso à escola na infância, ou os que moravam ou moram em regiões rurais e também se mantiveram afastados da escola, são alvos difíceis de atrair para o estudo.
“Há uma dificuldade grande de motivar aqueles que se mantiveram distantes do universo da leitura e da escrita agora”, diz.
“Nesses casos, é preciso lidar com o analfabetismo de forma muito individualizada. Não dá para termos uma política única, achando que ela resolverá e funcionará igual pra todo mundo”, critica.
No ano 2000, o Brasil assinou a Declaração de Dacar "Educação para Todos", elaborada pela Cúpula Mundial da Educação. Os países se comprometeram a reduzir o analfabetismo em pelo menos 50% até 2015. A meta brasileira era chegar a um índice de 6,7%.
O Brasil não conseguirá alcançar a meta, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A organização é responsável por monitorar os avanços dos países signatários da declaração e divulgou relatório atestando essas dificuldades no fim de janeiro. Hoje, a taxa de analfabetismo brasileira, entre a população com mais de 15 anos, é de 8,7%. Em 2001, o índice era de 12,4%.
Onde eles estão
Historicamente, os resultados e as estatísticas educacionais – especialmente as de exclusão – são bastante diferentes entre os estados e as regiões brasileiras.
O Nordeste concentra grande parte dos brasileiros que não sabem ler ou escrever e os números do analfabetismo nos estados da região são muito discrepantes em relação ao de estados do Sul e Sudeste, por exemplo.
A taxa de analfabetismo mais alta do País está em Alagoas, 19,66%. O Maranhão aparece na sequência, com índice de 18,76% da população com mais de 10 anos analfabeta.
A menor taxa, por outro lado, é a de Santa Catarina: 2,93%. Em seguida, aparecem o Distrito Federal (3,15%), São Paulo (3,51%) e Rio de Janeiro (3,52%).
As discrepâncias em relação às gerações, no entanto, são chocantes. No Maranhão, mais da metade (55,7%) da população com mais de 60 anos é analfabeta.
Em Alagoas, também (52,24%). Em muitos outros estados a porcentagem está acima dos 40%: Piauí (48,72%), Sergipe (46,19%), Tocantins (46,05%), Bahia (42,86%), Paraíba (42,34%), Pernambuco (40,78%) e Ceará (40,55%).
Na outra ponta, os menores índices de analfabetismo entre essa população estão no Rio de Janeiro (11,12%), São Paulo (12,66%), Paraná (17,77%), Santa Catarina (11,6%), Rio Grande do Sul (12,12%) e Distrito Federal (14,02%).
A média brasileira é de 24,36% de analfabetos entre as pessoas dessa faixa etária. Entre os brasileiros com idade entre 50 e 59 anos, o índice é de 11,78%; de 8,18% entre 40 e 49 anos; de 1,79% entre 10 e 14 anos e 0,96% entre 15 e 17 anos.
Alagoas e Maranhão também possuem altos índices de analfabetos entre outras faixas etárias. Alagoas lidera as piores estatísticas do analfabetismo entre as faixas etárias de 18 e 19 anos (5,93%, sendo que a média nacional é de 1,48%), de 25 a 29 anos (9,85%, diante da média nacional de 2,76%), de 30 a 39 anos (20%) e de 40 a 49 anos (26,82%).
A pior taxa entre os jovens de 20 a 24 anos é do Maranhão (4,77%), que também lidera a de 50 a 59 anos (34,7%).
A maioria dos analfabetos brasileiros vive na área rural. A taxa de analfabetismo nesses locais chega a 19%. Os homens têm situação educacional ainda pior: 21% de analfabetos. Entre as mulheres, o índice é de 16,9%. Nas cidades, há mais mulheres analfabetas do que homens: 6,2% contra 5,9%.
Novos analfabetos
Ana Lúcia Lima coordena, há 12 anos, uma pesquisa que monitora as habilidades de leitura, escrita e matemática de brasileiros com mais de 15 anos.
O Indicador de Alfabetismo Funcional divide os participantes em quatro grupos: analfabetos, alfabetizados em nível rudimentar, em nível básico e em nível pleno. Os dois primeiros compreendem o analfabetismo funcional.
O último levantamento, de 2012, mostrou que 47% das pessoas ainda estão no nível básico de alfabetização. Isso significa que elas leem e compreendem textos de média extensão, leem números na casa dos milhões e resolvem problemas simples.
Outros 27% ainda se encontram no nível rudimentar ou são analfabetos, conseguem fazer pequenas tarefas, como anotar um telefone, sabem conferir troco e identificar textos curtos. “Precisamos avançar muito”, diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário