Ao se comparar dados de pesquisa de opinião pública sobre reforma política de 2006 com a pesquisa específica sobre o tema realizada em 2013, a preferência pela lista aberta caiu de 63% para 48%, o apoio à lista flexível, combinando voto em lista partidária com voto preferencial, subiu de 14% para 21% e a defesa da lista fechada cresceu de 5% para 11%. O apoio à lista fechada aumenta para 63% quando ela é vinculada à proposta de sua composição basear-se na alternância de gênero. Ou seja, cresce o apoio à instituição de alguma modalidade de voto não preferencial, mesmo que combinado com o voto preferencial. Por outro lado, nas respostas não direcionadas, há problemas no entendimento técnico do que seja uma reforma política, uma vez que demandas sobre políticas públicas são misturadas a alterações nas regras constitutivas do sistema representativo (eleições e partidos).
O processo da reforma política existe, ele tem acumulado forças ao longo dos anos, possui base nas principais organizações e movimentos do campo democrático e popular e ganhou um novo impulso de 2013 para cá, com as manifestações de junho, que evidenciaram insatisfações com o sistema político. Há apoio também entre os eleitores, seja para o fim do financiamento eleitoral privado, seja para a Constituinte Exclusiva da Reforma Política.
Se o Congresso não consegue reunir uma maioria para realizar a reforma política, a Constituição de 1988 disponibiliza instrumentos de democracia direta que podem ser mobilizados para destravar o impasse. Mas, como o plebiscito e o referendo dependem também de decisão do Poder Legislativo, a Constituição garante a liberdade de expressão, reunião e organização e as forças do campo democrático e popular que defendem a reforma política vão continuar se organizando para fortalecer o processo da reforma política. Algumas entidades representativas têm levantado a perspectiva de pensar o processo da reforma política como um movimento de massas, como foi o das diretas já.
Em relação à proposta da presidenta Dilma Roussef, lançada em junho de 2013, de se fazer uma Constituinte Exclusiva para a Reforma Política, reproduzo aqui o pensamento do constitucionalista Ives Gandra Martins, que a defende, desde que legitimada por meios de democracia direta: “Os povos evoluem, e cada geração tem o direito, em regime democrático, de decidir seu próprio destino [...] se, mediante plebiscito ou referendo, o povo optar pela alteração de disposições relativas a regimes jurídicos ou políticos, democraticamente, isso será legítimo, podendo até mesmo a alteração atingir normas pétreas institucionais. [...] O plebiscito ou o referendo, conforme o teor da emenda a ser aprovada, representa a vontade popular em determinado período histórico, valendo, a meu ver, mais que a vontade dos constituintes passados”.
Como diz o título desse artigo, a reforma política depende de disputa política. A mudança social requer reunir consenso, mas a democracia também institucionaliza o dissenso e o conflito. Há atores e propósitos favoráveis e contrários à reforma política. Há divergências sobre quais mudanças devem ocorrer. O tema está na agenda pública, nas esferas sociopolítica e político-institucional. A luta política democrática é o caminho para que a vontade popular de alterar algumas regras do sistema político possa vir a ser respeitada.
* Marcus Ianoni é cientista político, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador das relações entre Política e Economia.
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