O Brasil é, vergonhosamente, campeão mundial de assassinato de homossexuais. Isso não é uma estatística fria, isso é gente ao nosso redor.
Meu primo Junior foi cruelmente assassinado. Meu amigo de escola Antônio foi esquartejado. Isso só para citar dois bem próximos. São muitos mais.
Há diversidade nos comerciais e nos programas de TV. Mas ela é uma mentira nas ruas. E uma mentira total no Congresso Nacional, cada vez mais careta, que se intimida diante de uma bancada conservadora bem organizada e abraça a pauta medieval que assola o mundo.
Defendo o direito dos conservadores de professarem e de viverem as suas vidas como quiserem, mas esmagarem outras formas de viver, isso não podemos aceitar.
A partir desta semana, nestes dias que antecedem a Parada Gay de São Paulo, estamos lançando, com a ajuda das grandes rádios, a música "Eu Sou Filho do Arco-Íris", que compus para o meu irmão Joca Guanaes.
Essa canção, gravada por grandes nomes da MPB como Fafá de Belém, Preta Gil, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Paulo Miklos, Sandy e tantos outros, é o início de uma campanha de mobilização e conscientização que vai durar um ano e culminar na Parada Gay de 2018, ano da eleição presidencial e do Legislativo, cuja causa LGBT precisa influenciar.
Vou dedicar meu tempo livre a ir às rádios e demais veículos de comunicação pedir para que toquem a música e abracem essa causa em ao menos dois aspectos fundamentais:
1) combater e reduzir essa estatística criminal infame por meio de políticas de segurança pública com rigorosa supervisão do Judiciário;
2) aumentar a conscientização e o debate nos veículos de comunicação e na sociedade em geral sobre essa pauta medieval que cresce à sombra da crise no Congresso Nacional.
A música "Eu Sou Filho do Arco-íris", que será cantada ao longo de todo o desfile, é um mantra que a Parada Gay precisa e que, ao meu ver, deve buscar todos os anos.
A imensa comunidade LGBT precisa evangelizar a nação sobre as suas dores, seus problemas, seus pleitos. E assim influenciar as políticas públicas.
A história da minha vida é abraçar causas. É genético. Meu avô era do "partidão", minha mãe era militante de esquerda. Meu papel no mundo é ajudar causas a causarem.
E é como embaixador global da Unesco que subo aqui neste púlpito que a Folha me dá e pergunto: governador Geraldo Alckmin, prefeito João Doria, o que a locomotiva São Paulo pode fazer para reverter esses índices absurdos de violência?
Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, você que é carioca, filho de uma cidade que é a diversidade em pessoa, mas que teve sua Parada Gay cancelada, o que você pode fazer para aplacar a pauta medieval no Congresso?
Direita e esquerda, a Aids e o crime voltaram a crescer por falta de campanhas públicas, matando gays coxinhas e gays mortadelas. É por isso que estou aqui, apelando para que os veículos de comunicação mudem o rumo dessa prosa.
As mídias —Facebook, Google e Twitter incluídos— são fundamentais para dar um basta nessas estatísticas infames que afrontam um país moderno apenas no comercial da TV. Vocês têm o poder de pautar a discussão na sociedade, de chamar o Congresso à reflexão, de atrair a atenção do Legislativo e do Judiciário.
Publishers, presidentes-executivos, chefes de Redação, editores, redatores, repórteres, está na hora de arregaçarmos as mangas e sermos todos gays. E, podem acreditar, é preciso ser muito macho para ser gay neste país
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