16 de agosto de 2021

Quem foi o publicitário Duda Mendonça

 


QFoto: Reprodução


Por Jefferson Gonçalves
Um dos mais premiados publicitários brasileiros, José Eduardo Cavalcanti de Mendonça, mais conhecido como Duda Mendonça, faleceu ontem (16) no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, em decorrência de um câncer no cérebro. Cérebro este que foi brilhante enquanto esteve em vida. Duda começou a carreira profissional como corretor de imóveis, e em 1975 começou a ganhar nome. Com a sua própria agência que levava suas iniciais, a DM9, Duda criou uma das principais empresas da história da publicidade brasileira.

O primeiro prêmio Grand Prix (GP) brasileiro do Cannes Lions, foi em 1993 com a propaganda de Duda sobre o Guaraná Antarctica Diet. Em 1999, a DM9 foi a mais premiada na França, a primeira vez de uma empresa brasileira, feito que se repetiu mais três vezes. Em 2010 foi eleito Personalidade de Publicidade do Ano em Portugal, para onde também levou suas ideias, que saíram de Salvador, para o Brasil e depois para o mundo.

Em Salvador, Duda marcou com a música 'sou baiano da gema, sou baiano do bom' para a publicidade da Ótica Ernesto "Meu rapaz". Quem nunca cantou "De repente fico, rindo à toa sem saber porque, e vem a vontade de sonhar de novo e te encontrar, foi tudo tão de repente..." música de autoria de Duda, para o Motel Le Royalle, gravado por Maria Betânia. Em 1984 a famosa frase "Não basta ser pai, tem que participar; não basta ser remédio, tem que ser Gelol" da peça publicitária da marca Gelol, criado por Duda, com qual ganhou um Leão em Cannes.

Ao todo foram seis Leões em Cannes, o prêmio mais cobiçado da propaganda mundial, o único publicitário brasileiro a chegar neste patamar.


Duda ainda encontrou tempo para trabalhar na política e colecionou eleições. Desde à Mário Kertész para prefeito de Salvador, em 1985; passando por Maluf à Prefeitura de São Paulo em 1992; e ao mais famoso, o Lulinha Paz & Amor, da primeira eleição de Lula para presidente, em 2002.

Como nem tudo na política são flores, o publicitário foi acusado de ter envolvimento no escândalo do mensalão em 2005, mas o plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) o absolveu das acusações de lavagem de dinheiro e do crime de evasão de divisas.

Aos 77 anos completos no último dia 10, Duda, casado com Aline Mendonça, deixa cinco filhos.

Homenagens

A segunda-feira foi de homenagens de colegas, amigos e companheiros. Nizan Guanaes, que adquiriu a DM9 do publicitário, comentou a morte em seu Instagram: "Eu comecei a minha carreira como estagiário do Duda Mendonça. E ele me ensinou a falar com o povão, o que sabia fazer como ninguém. Cunhou frases que fazem parte da cultura do Brasil e que viraram expressão popular, como: 'não basta ser pai, tem que participar'. RIP seu Duda".

"Eu estou muito triste com a partida de Duda, a Bahia perde, a publicidade brasileira perde um dos seus maiores expoentes. Duda era um gênio e vai ficar uma lacuna muito grande. Eu, pessoalmente, tinha Duda como uma referência e era fã incondicional do seu trabalho. Além de ter tido algumas oportunidades juntos, fica um uma marca e um vazio muito grande na área da publicidade baiana e brasileira", conta Marcelo Sacramento, vice-presidente da Tribuna da Bahia.

O Diretor de Redação da Tribuna da Bahia, Paulo Roberto Sampaio, fala do trabalho: "Duda conseguia mexer com nossas emoções em um minutinho apenas e muitas vezes sem dizer uma palavra na narrativa. Ele conseguia captar o sentimento das pessoas com rara sensibilidade. Gênio não se descreve. Aplaude, apenas. É o que faço agora, com pesar."

“Este é um dia muito triste para todos nós. Duda marcou a vida de muitos com seus trabalhos e a publicidade perde um grande nome. Neste momento, lembramos do legado que ele deixou, da importância que teve em nossa área e sempre lembraremos dessa forma: com respeito e alegria por suas conquistas. Descanse em paz, Duda”, lamenta Américo Neto, presidente da Agências de Publicidade - Capítulo Bahia (ABAP-BA).

"O gênio da publicidade todos conhecem, mas ele era ainda mais especial como um amigo, um irmão. Nos entendíamos pelo olhar. Me sinto privilegiado de ter tido a oportunidade de conviver com esse cara extraordinário. Com ele, vai um pedaço de mim", fala Clóvis Eugênio Lima, sócio do Sindicato das Agências de Propaganda do Estado da Bahia e amigo pessoal de Duda.

“Duda era um apaixonado pela família, pela Bahia, sua gente e belezas naturais. Comunicava com essa mesma paixão, trabalhando de forma leve e riso solto, buscando emoção e empatia nas estratégias de comunicação que planejava de forma sempre intensa e cuidadosa. Ele, certamente, de forma pioneira nos seus projetos e campanhas, projetou nosso mercado para além do país. Cada prêmio que ele ganhou na vida foi um prêmio também para o mercado publicitário baiano. Lamentamos profundamente sua partida, e seguiremos gratos por suas vitórias, honrando seu legado. Carreira brilhante!”, diz Ana Coelho, presidente da Associação Baiana do Mercado Publicitário (ABMP), em nota.

"Duda sempre criou tendências e renovava com muita habilidade a linguagem criativa! Trabalhos marcantes tanto na área empresarial como política, sendo estas, referenciadas através das suas campanhas maravilhosas e vitoriosas. O comercial “Não basta ser pai…” para Gelol, é um dos mais relevantes de todos os tempos da propaganda, virando inclusive jargão cultural! Duda deixa como marca o brilhantismo de trabalhos memoráveis e eternos e o espírito de amizade que sempre norteou seu histórico com todos os amigos!", diz o publicitário, Renato Tourinho.

"Fomos colegas no primário, na Escola Helena Matheus. Àquela época, o irrequieto garoto José Eduardo Cavalcante Mendonça, líder entre seus companheiros. Posteriormente, seguimos rumos diferentes, até reencontrarmo-nos no campo publicitário, eu na Tribuna, e Duda implantando a sua DM9, aproveitando o "boom" do mercado imobiliário. Daí, foi só sucesso, inclusive promovendo o nosso jornal, a ponto de tornar-se num brilhante profissional de marketing, conseguindo superar o desafio de transformar a imagem de Lula em "paz e amor", com participação expressiva na vitória deste para a Presidência da República, em 2002. A Bahia perde um filho ilustre e eu um amigo que me proporcionou belas lembranças. Que Deus se apiede de sua alma", finaliza o presidente da Tribuna da Bahia, Walter Pinheiro.

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