Cada tempo da vida tem sua forma de amar. Para os momentos de dúvida, para os momentos de troca, para os momentos que se definem pela transitoriedade, há o ficar. Ficamos como quem vai de um canto a outro, acompanhados. Imagine uma viagem de ônibus em direção à praia, na manhã de sábado. O ficante está ao lado, tornando as coisas melhores, e a gente se despede na chegada. Podemos nos voltar a ver, mas não é certo. Aquele momento acabou, reticências.
Ficar é leve, necessariamente. Um ato de carinho destituído de drama. Na ausência de um futuro glorioso, ou de um passado que nos ligue e magoe, podemos ser nós mesmos, sem complicações. O compromisso é a simplicidade. O beijo sem pressa, o sexo sem lágrimas, a conversa sem recriminações. Pela manhã, alguém se levanta e sai discretamente, sem fazer barulho, talvez deixando um bilhete sobre a mesa: “Foi bom”.
Com os ficantes se aprendem coisas, claro. É tudo novidade. O corpo, as palavras, os gostos e os sabores. Estamos na presença de uma pessoa estranha, afinal. As horas de intimidade tornam-se intensas. Há códigos a serem desvendados, prazeres a serem descobertos: isso é bom, aquilo não funciona. Diante de você há um livro inteiro, mas foi combinado, sem dizer palavra, que não se iria além da página dois. Operaremos apenas com as funções essenciais do sentimento amoroso. E seremos felizes assim, por enquanto.
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