11 de agosto de 2014

12 DE AGOSTO COMEMORAMOS A REVOLTA DOS BÚZIOS

O movimento popular da Revolta dos Búzios

Imagem: etniabrasileira.com.br

A Revolta de Búzios e a voz do povo

A Conjuração Baiana, também conhecida como Inconfidência Baiana, Revolta dos Búzios, Revolta dos Alfaiates ou Revolta das Argolinhas, foi uma conspiração ocorrida em 1798 na capitania da Bahia, no Brasil, para se libertar da Coroa Portuguesa.

As denominações Conjuração Baiana e Inconfidência Baiana são variações de uma mesma definição acadêmica.
O termo Revolta dos Alfaiates se deve ao grande número destes profissionais que participaram do movimento e pelo fato de dois dos quatro executados como líderes da conspiração exercerem esta profissão. Esta denominação também tem origem acadêmica, mas com a intenção de ser menos técnica e mais popular, sendo gradativamente incorporada pelas menções dos movimentos populares.
A designação Revolta dos Búzios se deve ao fato de alguns revoltosos usarem um búzio (concha de molusco em forma de espiral) preso à uma pulseira para facilitar a identificação entre si. Revolta das Argolinhas porque alguns participantes usaram uma argola em uma orelha com o mesmo fim. Estes são termos de origem popular, sendo que o “Revolta dos Búzios” tornou-se o predominante na transmissão oral na Bahia, devido a associação com as origens africanas, havendo também uma identificação com a luta contra a escravidão e por uma sociedade mais igualitária.

Revolta dos Búzios ( 1798 )
Imagem: correionago.ning.com
Comemorações de vários movimentos regionais de independência ou contestação foram organizadas “de cima para baixo”, através de órgãos oficiais das esferas federal, estadual ou municipal, dependendo do caso. Os desejos e sacrifícios referentes à Revolta dos Búzios são um nítido e raro caso de memória preservada, transmitida e firmada “de baixo para cima”, através de tradições orais que, com o passar do tempo, se organizaram e fortaleceram em instituições e eventos, privados e públicos, que defendem a igualdade racial e social, mesmos ideais de 1798.
O movimento ocorrido na Bahia em 1798 entrou para a história brasileira com um grande número de definições para identificá-lo, prova inequívoca de sua apropriação e transmissão pela população, com suas variações ocorrendo por conta da apropriação popular ao longo do tempo.

Reconhecidos tanto como mártires quanto heróis, os quatro líderes da Revolta dos Búzios, executados em 08 de novembro de 1799, foram oficialmente incluídos em 04 de março de 2011 no Livro dos Heróis da Pátria, também conhecido como Livro de Aço, situado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Livro dos Heróis da Pátria ( Livro de Aço )
Imagem: palmares.gov.br
Datas e nomes não são unanimidade nas celebrações da Revolta dos Búzios

Antônio José: o mártir esquecido?

A pena de morte se abateu sobre os quatro mártires: os soldados Luiz Gonzaga (36 anos) e Lucas Dantas (23 anos), e os alfaiates João de Deus (27 anos) e Manoel Faustino (22 anos).
Junto a estes quatro homens, temos o dever de consciência de acrescentar o nome de Antonio José, também ativo na conspiração, que foi preso no dia 28 de agosto de 1798 e no dia seguinte encontrado morto em sua cela, com um punhado de comida na boca e o corpo apresentando evidentes sinais de envenenamento. Antonio José, portanto, é o quinto mártir da Revolta dos Búzios.”
   Texto:
   Livre Vício
   A Revolta dos Búzios: 8 de novembro na história

Imagem: etniabrasileira.com.br
Antônio José está caracterizado e nomeado pelo contorno sombreado à direita dos quatro heróis oficialmente reconhecidos.

12 de agosto X 08 de novembro

Na madrugada de 12 de agosto de 1798 foram colados ou depositados onze papéis escritos à mão em pontos de grande circulação de Salvador pregando a independência da Bahia, defendendo a diminuição de impostos, liberdade de produção, abertura dos portos para negociar com todas as nações amigas e exigindo o fim da discriminação social e racial, abolindo a escravidão e desenvolvendo um governo com igualdade racial. 
Após serem presos e julgados, os quatro líderes da Revolta dos Búzios foram condenados, enforcados em 08 de novembro 1799 na Praça da Piedade (Salvador) e esquartejados. 

Desde 2011, o Governo da Bahia escolheu 12 de agosto (data de distribuição dos panfletos revolucionários) para realizar as celebrações no estado alusivas ao movimento.
Há quem defenda que a data de 08 de novembro (dia das execuções) seja o dia nacional para lembrar a memória dos quatro mártires e heróis.

Revolta dos Búzios ( 12 de agosto )
Imagem: eternocomosempre.blogspot.com


Revolta dos Búzios ( 08 de novembro )
Imagem: livrevicio.wordpress.com
Revolta dos Búzios e a luta pela igualdade social e racial

Os fatos atestam a amplitude das instituições e pessoas que homenageiam ou usam a Revoltas dos Búzios para defender suas reivindicações por melhoras sociais e contra discriminações raciais. Basta uma rápida pesquisa na Internet para constatar a variedade de eventos associados ao movimento e perceber que, se ele foi vencido em 1798, ganhou a memória e admiração do povo baiano e depois do brasileiro, vencendo o tempo e catalizando paixões idealistas no século XXI, simbolizando cada vez mais a luta por uma sociedade livre e igualitária.
Abaixo transcrevo alguns trechos de textos para mostrar o mosaico ideológico, típico de um movimento popular e não oficial, que compõe o conceito da Revolta dos Búzios:

“O Bloco Afro Olodum mantém viva a memória das lutas libertárias da Bahia, celebrando todos os anos a Revolta dos Búzios, também chamada de Revolução dos Alfaiates ou Sedição de 1798, cujos ideais incorporavam o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, da Revolução Francesa. Os rebeldes da Cidade da Bahia incluíam em sua bandeira de lutas o fim da escravidão, no que se mostraram mais avançados do que os inconfidentes mineiros. Os ideais da Revolta dos Búzios seriam assumidos poucas décadas depois por combatentes da guerra pela Independência do Brasil na Bahia, vitoriosa no dia Dois de Julho de 1823.”
   Jeito Baiano
   Olodum e a Revolta dos Búzios

“Nós precisamos celebrar esse movimento com altivez e queremos que agora o resto do Brasil comemore essa epopéia dos afro-brasileiros da Bahia, pois eles deram suas vidas pela liberdade e isso está documentado em nosso Arquivo Público”, falou João Jorge, o presidente do Olodum, referindo-se aos quatro mártires da Revolta.
O cineasta Antônio Olavo, que pesquisa o acontecimento há cinco anos e fará um filme sobre o tema, destaca: “Meu objetivo é valorizar a linguagem visual na perspectiva de resgate da memória negra e popular, pois se trata de um acontecimento significativo para Bahia e para o Brasil”.
Para o secretário de promoção da igualdade racial, Elias de Oliveira Sampaio, a historicidade da Revolta dos Búzios precisa ser evidenciada, pois é algo que está em nosso cotidiano: “Precisamos conhecer e lembrar de um fato 'inequívoco' em nossa história, pois os episódios aconteceram onde nós vivemos e passamos diariamente, no Centro Histórico, Dique do Tororó e Praça da Piedade. Então, mobilizar a sociedade civil em prol deste acontecimento significa valorizar a nossa identidade enquanto negros, baianos e brasileiros, principalmente no ano internacional dos afrodescendentes.
   Blog do Alisson Ferreira
   Presidenta Dilma Roussef inscreveu os heróis da Conjuração Baiana no Livro dos Heróis Nacionais

“A luta dos que sonhavam com uma república de igualdade e com o fim da escravidão, no século 18, em Salvador, inspirados pela Revolução Francesa, recebe, com esta Lei, uma demonstração de reconhecimento da sua importância para a nação. Esta é mais uma vitória para o povo negro. Precisamos sempre exaltar esses que são os verdadeiros heróis da nossa nação.”
   Luiz Alberto
   Líderes da Revolta dos Búzios são entronizados no Panteão da Pátria, como heróis nacionais
Obs: O deputado federal Luiz Alberto (PT/BA) é o autor do projeto de lei 5.819/2009, sugerido pelo Grupo Cultural Olodum, que culminou na Lei 12.391, de 04 de março de 2011, que determinou a inscrição no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade, em Brasília, dos nomes dos heróis da “Revolta dos Búzios” João de Deus do Nascimento, Lucas Dantas de Amorim Torres, Manuel Faustino Santos Lira e Luís Gonzaga das Virgens e Veiga.

“Viva a Revolta dos Búzios! Tanto para os alfaiates mulatos de 1798 como para o Quilombo Rio dos Macacos o inimigo é o mesmo: o poder (neo)colonial e suas forças desumanizantes. Memória ativa e imaginação combativa são as nossas armas.
Participem! Somos todos Quilombo Rio dos Macacos!”
   Ocupa Salvador
   Ocupa Piedade em solidariedade ao Quilombo Rio dos Macacos. Urgente!!!
Obs: Chamada para evento em 30 de junho de 2012.
A comunidade quilombola Rio dos Macacos está localizada no município de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador.

Evento do Grupo Olodum na Praça da Piedade ( Salvador )
Imagem: macumba-berlin.de

A Revolta dos Búzios na mídia

Há diversas publicações gráficas e digitais sobre o assunto, portanto esta é apenas uma amostra da diversidade do material disponível.

Jogo

Búzios - Ecos da Liberdade
Produzido pelo Grupo de Pesquisa Comunidades Virtuais, da Universidade do Estado da Bahia, para ser baixado e instalado em computadores que usem o sistema operacional Windows e Linux. O enredo gira em torno do personagem fictício Francisco Vilar, um mulato brasileiro que vai estudar Direito em Portugal e ao concluir seus estudos retorna para sua cidade natal, Salvador, encontrando um sociedade marcada pela escravidão e ânsia por liberdade. Através da interação com diferentes ambientes e pessoas, através da diálogos legendados e escolhas de caminhos e itens, aprende-se sobre o contexto social e econômico da época.
No site, além do jogo principal, é possível fazer o download de 3 mini-games:
• Berimbau Hero - Nos mesmos moldes do Guitar Hero, o objetivo é tocar um berimbau executando as notas apresentadas na tela.
• Torre de Hanoi - Jogo de raciocínio e lógica, onde o objetivo é transportar uma pilha de louça de porcelana de diferentes tamanhos de um lado para o outro, encaixando as peças menores dentro das maiores.
• Queda de Braço - Jogo de controle e agilidade, necessários para vencer o oponente.
O jogo está disponível para download gratuito no link:
http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/buzios/downloads 

Vale a pena dar uma olhada nas orientações pedagógicas do jogo, pois além de mostrar o enredo e dinâmica do jogo, oferece conteúdos históricos sobre o tema, com sugestões de literatura e mídias. O jogo fornece uma boa oportunidade para que professores de História trabalhem o conteúdo de forma interativa com a ajuda dos jogos de computadores. Para os estudantes, significa mais uma forma de aprender brincando, utilizando suas habilidades com jogos eletrônicos para aprimorar seus conhecimentos sobre a história da Bahia.
O link abaixo permite ver e, se desejar, baixar as orientações pedagógicas.
http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/buzios/orientacoes/orientacoes_web.pdf 

Búzios: Ecos da Liberdade
Imagem: comunidadesvirtuais.pro.br

História em Quadrinhos

Revolta dos Búzios - Uma história de igualdade no Brasil ( Maurício Pestana )
Produzida em 2007 com parceria da Pestana Arte & Publicações e a Escola Olodum, destaca os principais acontecimentos da conspiração, através de diálogos e imagens, e faz uma contextualização com a atual sociedade baiana.

Revolta dos Búzios: Uma história de igualdade no Brasil
Imagem: institutobuzios.org.br
Literatura

A Conjuração Baiana ( Luís Henrique Dias Tavares )
Publicado pela Editora Ática em 1994, o livro faz um retrato do cotidiano da época, narra fatos históricos da Revolta dos Búzios e apresenta características dos principais atuantes desse movimento social.

A Conjuração Baiana
Imagem: livrariasebodomessias.com.br

O Instituto Búzios

O Instituto Búzios, com sede em Salvador (BA), é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, entidade nacional sem fins lucrativos, reconhecida pelo Ministério da Justiça (Processo MJ nº 08026.001014/2004-04).
Desenvolve ações direcionadas para subsidiar e estimular o fortalecimento das organizações e movimentos sociais autônomos, comprometidos com a conquista de direitos e a afirmação da cidadania, por compreender que a igualdade racial é condição necessária ao desenvolvimento pleno da democracia e da cidadania no nosso país. As políticas de inclusão social e a promoção da igualdade racial se constituem numa exigência histórica e objetivo estratégico de sua luta secular.
O instituto busca um desenvolvimento comunitário participativo que dê respostas aos problemas de desemprego, da pobreza, de infra-estrutura econômica, social e urbana, que atinge, principalmente, a população negra. Para tanto se articula e desenvolve parcerias com entidades do movimento negro, ambientalistas, igrejas, terreiros de candomblé, associações comunitárias, instituições públicas, universidades e outras instituições da sociedade civil buscando formular diretrizes e propostas que viabilizem essas conquistas.
O nome do instituto é uma homenagem à Conjuração Baiana de 12 de agosto de 1798, também denominada Conjuração dos Búzios.
Texto adaptado do histórico da instituição, disponível em:
http://www.institutobuzios.org.br/instituicao.html
Heróis da Revolta dos Búzios - Heróis do Brasil

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