6 de setembro de 2015

Somos os culpados pela crise


Ela não é criada apenas pela falta de planejamento do governo. Nasce da falta de planejamento das famílias e dos empresários

GUSTAVO CERBASI
Que ano! Enquanto algumas famílias entram em desespero com o desemprego, outras estão comprando e investindo. Enquanto algumas empresas fecham, outras compram seus ativos com desconto. Poucos percebem que a crise – que prefiro chamar de correção de expectativas – não é criada apenas pela falta de planejamento do governo. Ela nasce da falta de planejamento das famílias e dos empresários.Mal preparados que somos para planos de longo prazo, é comum que, em períodos de vacas gordas, exageremos nos investimentos, nas aquisições, nos parcelamentos que engessam escolhas futuras, no deslumbramento diante de um novo carro ou do restaurante da moda. Gastamos mais do que é razoável, acreditamos que os bons ventos da bonança continuarão soprando por mais tempo e que a providência divina ajudará. Todos, otimistas, acreditam ao mesmo tempo que “o mercado” ajudará no sucesso dos negócios e no pagamento dos custos extras assumidos. Mas, dali a alguns meses, “o mercado” não tem mais dinheiro para gastar, os negócios diminuem, vem a crise (ou correção das expectativas) – e com ela o desemprego, o prejuízo, o endividamento fora de controle e o medo. Os mais conscientes percebem que isso é cíclico, contêm suas expectativas nos bons momentos e criam reservas para aproveitar as oportunidades que serão deixadas pelos desesperados durante as crises. Sabem que “o mercado” somos nós.
Nesse exato instante, está sendo criada a próxima crise. Mal saímos da atual, é fato! Mas, por falta de preparo para um cenário que convida aos estudos e à reformulação de planos, muitos desempregados sem reservas financeiras estão recorrendo a bicos e a novas carreiras para sobreviver. Estão surgindo pintores que nunca pintaram uma parede, encanadores que não sabem o que é um sifão, professores sem formação. A necessidade cria uma legião de profissionais não profissionalizados que, sem técnica, não saberão fidelizar clientes. Ganharão mal pelo trabalho ruim, sofrendo também com isso. A crise acabará, um dia. Na recuperação, os profissionais que perderam emprego e que não puderam melhorar sua qualificação perderão a onda de recuperação. Verão todos prosperar a sua volta. Quando a bonança – enfim! – chegar a todos, estarão sedentos por tirar o atraso e se deslumbrar no consumo. “Eu mereço!” Mas o ciclo da bonança já estará no fim.
Ao governo, no curto prazo, cabe tentar balizar os mecanismos que estão a seu alcance para equilibrar a economia. O ideal é investir em educação para que as pessoas e as empresas aprendam a planejar e empreender. E não faria mal, claro, se cortasse gastos nas vacas gordas, para dar o exemplo. Mas, cadê? Nesse aspecto, estamos desgovernados. As crises virão: cíclicas, esperadas. Aos conscientes, bom proveito!

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