21 de junho de 2015

QUERIDO POR ARTISTAS BABALORIXÁ DE LAURO DE FREITAS MANTÉM A HUMILDADE.

  • O pai de santo Augusto César Lacerda

A clientela de Augusto César Lacerda não deixa mentir: Selton Mello, Maria Zilda Bethlem e Vanessa Da Mata são alguns dos muitos artistas que procuram o babalorixá baiano para aconselhamento espiritual. Amigo de Flora Gil, ele é discreto quanto à maior parte de sua clientela, mas confirma a preferência, embora rejeite o título de pai de santo dos famosos.
"Não me acho no direito de citar todas as pessoas que me procuram, mas algumas se tornaram minhas amigas. E me colocaram essa tarja, mas sou pai de santo de quem me procura, da mulher do acarajé, do açougueiro. Não quero fortificar isso", diz o sacerdote de 66 anos, 35 como pai de santo.
Filho de Logun Edé, Lacerda comanda o terreiro IlêOmorodéAxé Orixá N´Lá em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, mas visita constantemente o Rio de Janeiro, onde recebe muitos globais. As visitas à cidade ficaram mais frequentes depois que Flora arrumou um cantinho especialmente para ele no terreno da Gegê Produções, na Gávea. A próxima viagem já está agendada para agosto. "Sempre que posso dar uma fugida, fora do período das obrigações da casa, vou pro Rio. Às vezes fico 15 dias, às vezes fico um mês. Mas já fiquei muito em hotel ou na casa de alguém, já incomodei muita gente amiga. Não é muito agradável ter um baiano na sua cozinha, mexendo com azeite de dendê", diverte-se ele, que também é pai de santo e amigo da promoter Liège Monteiro e da socialite Lilibeth Monteiro de Carvalho.
A relação com Flora Gil começou através de uma de suas irmãs de santo, Keka, que apresentou a dupla. "A gente tem gostos muito parecidos. Quando Flora ia se casar com Gil, me chamou para ser padrinho. Disse que não podia aceitar porque ela tem tantos amigos importantes. Ela respondeu: 'Porque você foi meu primeiro amigo verdadeiro na Bahia'. Sou padrinho de Flora, não é brincadeira não (risos). Tempos depois é que eu me tornei pai de santo dela", conta Lacerda, que também tem Nara Gil, filha mais velha do cantor, como sua filha de santo.
Rodeado pelas celebridades, ele não escapa da curiosidade alheia nem de ser assunto de reportagens a seu respeito. A exposição, no entanto, não o deslumbra - é algo que ele considera fugaz. "No princípio, é engraçado estar no jornal, mas ninguém se sustenta o tempo todo nisso. Não posso querer uma coisa que seja tão passageira. O que me interessa é ser reconhecido por fazer parte de uma casa tradicional, por ter desenvolvido um trabalho sério, comprometido com o axé, com o nome do Gantois. Claro que é bom de vez em quando dar uma aparecida pra lembrar as pessoas que você está vivo", brinca o baiano.
Saia justa entre famosos
Um amigo famoso foi puxando o outro, mas tamanha popularidade na classe artística já lhe rendeu inclusive algumas saias justas. Sem citar nomes, ele lembra um episódio em que foi procurado pela "inimiga número um" de uma de suas clientes. Preferiu ficar longe de confusão. "Tive a hombridade de dizer: 'Não vou jogar pra você'. Acho que ela ficou chateada, mas ia fazer o quê? Jogo duplo? Não faço essa linha. Faço questão de manter a amizade e o comprometimento", declara.
Ele também evita polemizar em relação a um caso recente envolvendo celebridades e religião, quando o ator Henri Castelli publicou em sua conta no Instagram uma foto da filha de um ano e meio, Maria Eduarda, vestida de baiana no colo de sua mãe de santo. O post provocou reclamações nas redes sociais da mãe da menina, a relações públicas Juliana Despirito. "Tem uma questão preconceituosa, de intolerância aí, porque se a menina estivesse na igreja de Nossa Senhora Aparecida ninguém falaria nada. Mas eu, particularmente, tenho muito cuidado com isso, acho que a criança deve sempre ser resguardada e evito antecipar uma iniciação até ela estar mais madura e responder por si", afirma.
Embora a fama de seu terreiro atraia muita gente de outros lugares até a Bahia, Lacerda não é muito fã dos visitantes que encaram o local como ponto turístico. "Detesto turista. Não estou aqui pra isso, sou um sacerdote que se propõe a ajudar as pessoas. Geralmente eles não têm a menor compostura, porque aqui é região de praia pensam que podem chegar de biquíni. Se quer fazer turismo, vá pro Pelourinho!", afirma.
Os motivos que levam artistas e anônimos até o pai de santo são os mais diversos, segundo ele. "Às vezes a pessoa vem pra resolver a compra de uma casa e a mensagem principal é outra, varia muito, de pessoa pra pessoa. Jogar búzios não é uma coisa monótona", brinca.
Quando não está dedicado ao candomblé, Lacerda se dedica a projetos em ONGs e ao desenho -ele é diretor de arte e consultor espiritual do bloco Araketu, batizado por ele. "Nos primeiros anos tinha uma participação muito intensa, criava o tema do bloco. Mas a coisa ficou muito grande e ele perdeu um pouco da raiz, a condição de ser um bloco afro. Esse rumo eu não curti. Mas nós estamos retomando, o Araketu vem aí", anuncia.

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