6 de maio de 2017

Demografia do crime


Dizem que números não mentem. Sei lá… Sempre fui um desastre em cálculo e suspeito que, nesse planeta maluco que devoramos, até a Matemática é vulnerável a cambalhotas.



O enunciado a seguir mais pretende valer-se de “contabilidade criativa” do que da exatidão aritmética. A questão da prova é a seguinte: onde se abriga a escória da sociedade brasileira? Cuidado com a pegadinha! Você pode, seguindo o senso geral, citar os presídios. Ou as áreas carentes onde os bandidos dão as cartas.
A conta da verdade é outra. A “lista do Fachin” expõe delações de crimes cometidos por donos da política nacional. Aplicadas as respectivas porcentagens, levando-se em conta a população total de cada grupo, chegamos às taxas setoriais de delinquentes. Elas correspondem a 29,6% de senadores (24 nomes), 44% de governadores (12  nomes), 28,5% de ministros (8 nomes), 7,6% de deputados federais, 100% dos ex-presidentes vivos (5 nomes) e 100% do presidente em exercício (1 nome).
Todos se dizem indignados e puros, mas entre os mais de 600 mil internos do sistema penal brasileiro essa também é a ladainha majoritária. Sendo assim, fiquemos com os números, “que não mentem jamais”.
A comunidade considerada mais violenta do Rio de Janeiro é o Morro do Chapadão, na Zona Norte carioca. Ali, os traficantes exercem domínio territorial absoluto, impondo regras ao comércio, cobrando taxas, determinando toques de recolher e controlando com mão de ferro o ir e vir na área – mesmo o da PM. Ainda assim, esse poder absoluto é exercido, segundo a polícia, por um contingente com não mais de 100 criminosos – ou “apenas” 0.33% da população de 30 mil almas com endereço no local. Uma ninharia, diante das escalas vistas no Congresso, nos Ministérios, no Planalto de hoje e de outrora e nos palácios estaduais.
Mesmo nas penitenciárias, se forem excluídos os condenados por posse e uso de drogas, que a ONU defende descriminalizar, os que já cumpriram a penas e continuam na jaula, os condenados injustamente e (por que não?) os que foram levados à delinquência pela vida cachorra imposta aos pobres, o quociente de inocência superará o de todos os núcleos de poder da República. Enfim, responda aí: “onde se abriga a escória da sociedade brasileira?”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário